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Sandra Henriques

Se pudesses escolher uma frase, um texto, uma música ou um poema para te definir qual seria?

Espero que um livro se enquadre na definição de “texto”! De todos os meus livros só há um que já li mais do que uma vez, o “Something Wicked this Way Comes” do Ray Bradbury. Comecei a ver filmes e a ler livros de terror e de ficção científica numa altura em que se achava que isso não era coisa “de meninas”. Ainda bem que não dei ouvidos a nada disso! E apesar de ter uma grande coleção de livros do Stephen King (que está longe de estar completa!), é ao livro do Bradbury que regresso várias vezes.

A história parece, a olho nu, uma daquelas narrativas básicas sobre o ritual de passagem da infância para a idade adulta, com acontecimentos sobrenaturais pelo meio. Mas fala de crescimento, de lealdade (aos teus valores e às pessoas que te apoiam incondicionalmente), de medos e arrependimentos, de escolhas, de nunca ser tarde para se fazer o que se gosta. Tem muito a ver com tudo o que aprendi na última década de vida (menos a parte do circo amaldiçoado).

Qual foi o maior desafio que viveste até hoje?

Os últimos cinco anos têm sido uma verdadeira montanha russa! Durante muito tempo achei que o meu maior desafio tinha sido ser mãe muito jovem (tinha a idade que o meu filho tem agora, 21) e ter feito tudo praticamente sozinha.

Mas desde que decidi trabalhar no que me faz feliz, que o desafio é substancialmente maior. É muito fácil deixares de separar o trabalho da vida privada, entrares em piloto automático. No início de 2019 dei por mim a não recusar nenhuma proposta de trabalho. Estava a manter a cabeça ocupada depois de ter perdido o meu pai (nem tinha dado espaço a mim mesma para fazer o luto) e nem me apercebi disso. Depois algures em Abril houve uma sequência de acontecimentos que eu não podia controlar e desmoronei. Entrei em burnout, isolei-me dos amigos, cancelei contratos com clientes. Foram meses muito complicados em que senti, pela primeira vez, que não conseguia mais. E sair desse buraco dependeu de todas as forças que eu consegui arranjar e de me rodear de pessoas que verdadeiramente interessam. E acho que nunca estarei a 100%, o que é bom, como as cicatrizes. Convém que as vejas para te lembrares que não queres voltar ali.



E qual foi o momento mais feliz?

Da vida toda? Tantos! O meu filho será o primeiro porque isto de fazer outro ser humano dá mais trabalho do que parece! Depois, ter conhecido o meu marido (como e onde é uma longa história), que me desafia desde o dia em que nos conhecemos. E ter aprendido a rodear-me das pessoas certas (os amigos são a família que se escolhe), que me fazem bem, que puxam por mim, que me deixam ser eu (mesmo quando isso implica piadas secas e histórias que nunca mais acabam).

Decidiste criar o blogue Tripper porque…

O blogue surge em 2014, enquanto estava na Índia, uns meses depois de me ter despedido de um emprego que não era a minha cara e de ter assumido que o “mau feitio” com que me rotulavam era na realidade o não gostar de trabalhar em ambientes corporativos. Demorei anos a perceber isto! Comecei o Tripper porque gostava de escrever, tinha prática a escrever em inglês e precisava de um portfólio que refletisse essas competências.

De que forma é que a criação deste projeto transformou a tua vida?

Eu comecei o Tripper um bocadinho sem plano e sem perceber bem algumas ferramentas essenciais. Mas, entre 2014 e 2017 cresci profissionalmente mais rapidamente do que em 10 anos a trabalhar para uma multinacional. E percebi a força de ser eu a fazer acontecer e mais ninguém. Também aprendi que isso é um risco porque tenho a tendência para achar que consigo fazer tudo sozinha.

Ainda sofro um bocadinho de “síndroma do impostor” mas acho que numa área criativa é impossível tu achares que já atingiste o pico. O facto de nunca atingir o pico é o que me permite continuar a aprender e a evoluir.

O que é que o teu trabalho acrescenta à vida dos teus clientes e leitores?

Tanto os clientes como os leitores dizem o mesmo da minha escrita: a minha “voz” sente-se, mas não se impõe. Recentemente pedi testemunhos a clientes para pôr no meu site que ainda está em construção e achei curioso que eles dissessem a mesma coisa que alguns leitores já me tinham dito.

E há histórias pessoais de certos leitores do blogue que guardo com carinho. Uma delas foi um leitor que tinha sido adotado em bebé e que descobriu que o pai biológico dele tinha o mesmo sobrenome que eu. Pensou que fôssemos família. Ajudei-o a encontrar a família do lado do pai (que afinal não tinha nada a ver com a minha) e ele partilhou o relatório da adoção comigo porque sentia que eu fazia parte da família à mesma. Chorei baba e ranho a ler aquele relatório. Mas ele considera que teve uma vida feliz e apesar de ter vivido na Califórnia desde sempre sente-se 100% açoriano. Acho extraordinário!

Um conselho para quem quer iniciar um projeto.

Agarrem num caderno e registem tudo! Ideias, planos, notas soltas, ponham datas, façam desenhos, rabisquem, questionem-se, questionem os outros.

Eu nunca pensei tanto numa das minhas primeiras aulas de faculdade como nos últimos seis anos. Foi uma aula com o Rui Zink, de Introdução à Metodologia do Trabalho Científico, em que ele nos dava aquele exercício dos 9 pontos que tens que ligar sem levantar a caneta. E enquanto a turma toda fazia o exercício com lápis e ia apagando à medida que se enganava, eu fazia com caneta e riscava (sem sequer pensar no significado de usar caneta em vez de lápis).

Ele foi passando pelas várias filas, parou na minha mesa, sorriu, agarrou na minha folha e disse “se vocês não apagarem o que já erraram, não vão estar sempre a repetir o mesmo erro”. Claro que na altura nem atingi metade do significado daquilo, mas curiosamente mantenho o mesmo método de trabalho.

Qual é a tua principal fonte de inspiração?

Se estou num dia extrovertido, cheia de energia para dar e vender, inspiro-me em pessoas. Adoro uma boa conversa e se essa conversa for com um artista e der em entrevista, melhor ainda.

Nos dias em que preciso de recarregar baterias, vejo filmes ou leio, sempre com alguma coisa à mão para tirar notas. É impossível desligar completamente.


Como descreves a experiência Share inspiration @ the Table?

Já foram umas quantas, mas lembro-me sempre com mais carinho da primeira de todas. Por ter sido a primeira, por ter percebido que havia mais pessoas como eu, por termos começado como estranhos e termos ficado amigos. E o espírito tem-se mantido. Gosto de rever os “repetidos” (quando consigo vaga e quando tenho disponibilidade) mas também gosto de receber os que vêm pela primeira vez, meio a “medo”, porque já estive daquele lado.


Let´s share inspiration porque…

... todas as histórias têm impacto em alguém, quer estejas dois passos atrás ou dois passos à frente dela.




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