Se pudesses escolher uma frase, um texto, uma música ou um poema para te definir qual seria?
“Jacaré parado vira bolsa”. É um provérbio brasileiro que espelha na perfeição os perigos de não avançarmos, de não evoluirmos e de ficarmos sempre no mesmo lugar. Naturalmente, não se refere apenas a um lugar físico, mas um lugar intelectual, mental e emocional. Sou muito a favor da aprendizagem, dos novos estímulos, de sermos um bocadinho melhores do que éramos ontem.
Qual foi o maior desafio que viveste até hoje?
Comecei muitas vezes do zero, mudei de áreas profissionais, mudei de cidade e país muitas vezes e, apesar de todas estas façanhas terem constituído desafios à sua medida, sempre encarei com alguma naturalidade o ato de recomeçar. E, verdade seja dita, não existe isso de “começar do zero”. Levamos sempre o que aprendemos no passado, levamos sempre a essência do que somos para a próxima experiência. Por isso, já levamos de avanço alguns graus de experiência de vida, por mais que queiramos convencer-nos de que “não, não, isto é totalmente novo e provavelmente irei morrer”.
Acredito que o meu maior desafio foi ter regressado a Lisboa em 2016 e ter começado uma carreira numa área nova (marketing digital) e com um tipo de trabalho convencional, num escritório normal e com pessoas normais. Tinha sido freelancer nos 4 anos anteriores, tinha viajado pelo mundo, tinha vivido sempre com doses elevadas de adrenalina. Esta coisa de vir para Lisboa e não sentir que estava a fazer algo de extraordinário com a minha vida foi especialmente difícil de aceitar.
E qual foi o momento mais feliz?
Muito provavelmente todas as vezes que aterrei no Rio de Janeiro. É a minha cidade-gémea, é o lugar do mundo onde sou mais criativa, onde os textos me saem mais bonitos, livres e interessantes. É a cidade mais bonita do mundo e aquela que me faz acreditar que Deus existe e criou este planeta, com a sua paleta de cores e lápis mágicos.
Decidiste seguir o universo das palavras, dos conteúdos e da tradução porque…
Desde miúda sempre tive muita vontade de mundo, sabes? Aprender bem uma língua é um passaporte para uma nova cultura e para um novo universo. Licenciei-me em Tradução e Interpretação de Conferência e, no meu 5.º ano de universidade, fui estagiar para o Rio de Janeiro e fazer Erasmus em Milão, onde acabei por ficar os primeiros 3 anos da minha carreira. Desde que entrei no mercado de trabalho em 2007 sempre mantive duas actividades paralelas: a tradução (literária e técnica) e a escrita de conteúdos e marketing digital.
De que forma é que o teu trabalho nestas áreas transformou a tua vida?
A tradução abre-nos à literatura, à cultura e à curiosidade acerca do mundo e de como as coisas funcionam; a escrita abre-nos a mente e ao conhecimento pessoal. Acredito que a combinação das duas resultou numa boa base de desenvolvimento intelectual.
O que é que o teu trabalho acrescenta à vida de quem trabalha contigo?
Acredito, com toda a sinceridade, que competência é uma coisa muito bonita, mas é a minha personalidade que marca a diferença. Tenho jeito para motivar, sou compreensiva e, quando os meus demónios não ganham, tenho muito boa disposição. Há algo que todos os meus colegas e chefes sempre disseram durante as várias empresas por onde passei: ajudei sempre a melhorar o estado de espírito da equipa. I’ll take it!
Qual é a tua principal fonte de inspiração?
Revistas: Sou obcecada por revistas. Desde sempre, desde miúda. Agora dedico-me às revistas boas, claro. Gosto da Flow Magazine, Oh, Breathe, Monocle, Courier, The New Yorker, The Atlantic.
Newsletters: Estou prestes a lançar a YellowLetter e subscrevo umas duzentas newsletters neste momento. Eu sei, tenho uma caixa de e-mail muito animada.
Tempo sozinha: Sou uma pessoa extrovertida e sociável, mas recarrego baterias quando estou sozinha, de preferência num hotel no meio da natureza e com uma grande piscina.
Conversas offline: brunch, almoços ou jantares com amigos, colegas, desconhecidos. Eventos como o Share Inspiration, as CreativeMornings (evento mensal de networking e criatividade que organizo) e todas os pretextos para conversar com pessoas na vida real, ouvir gargalhadas, agarrar na mão de tanto entusiasmo e de memorizarmos o timbre do outro para sempre.
Como descreves a experiência Share inspiration @ the Table?
Acho que tu, Carla, conseguiste criar uma comunidade bastante diversificada que tem como ponto comum aprimorar a forma como comunicam e conhecer pessoas com valores idênticos. No jantar em que estive presente (infelizmente foi apenas um ainda) encontrei artistas, cientistas, escritores e tantas outras pessoas diferentes. Tu és uma anfitriã perfeita: graciosa, elegante e entusiasta. Combina tudo na perfeição.
Let´s share inspiration porque…
É a única forma de não termos o mesmo fim do que o jacaré.
www.instagram.com/rafamotalemos
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