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Foto do escritorCarla Costa

Sandra Gachineiro

Se pudesses escolher uma frase, um texto, uma música ou um poema para te definir qual seria?

“A tree without roots is just a piece of wood.”

A frase é atribuída ao chef Marco Pierre White e acompanha-me desde a faculdade num post-it que está sempre por perto. Acho que o contexto inicial é referente à família, mas consigo atribuir-lhe um sentido maior, pois acredito que tudo o que é feito com significado tem mais valor. Esta frase não me define, mas define muitas das minhas opções.

Qual foi o maior desafio que viveste até hoje?

Já passei por alguns - desde saúde, trabalho, questões pessoais - mas o maior desafio continua a ser a superação pessoal.

De tudo o que me aconteceu apenas uma pequena parte foi um processo iniciado por mim. A grande maioria trata-se de decidir como encarar uma situação que me foi imposta e nessas, onde a sensação de controlo é muito reduzida, tem sido um desafio grande fazer escolhas conscientes ao invés de me deixar levar pela forma avassaladora como alguns problemas chegam até mim.


E qual foi o momento mais feliz?

Os meus momentos mais felizes são os que, pelo esforço de os alcançar, estão também presentes outros sentimentos que maximizam a noção de felicidade. E desses, mais intensos, tenho três empatados: o nascimento dos meus filhos e a chegada a Santiago de Compostela.

A minha filha nasceu prematura de urgência - não existia mala de maternidade, o pai estava no estrangeiro, a minha médica estava literalmente de férias na China... todas aquelas pequenas coisas que somadas adicionaram uma carga emocional muito grande, fazendo com que o desfecho fosse proporcionalmente avassalador.

O meu filho nasceu após uma gravidez de risco e tê-lo nos braços foi um momento de grande gratidão, uma conquista pessoal gigante.

O Caminho foi feito em absoluta entrega. De todas as coisas que antecipei e para as quais me preparei fiquei apenas com o conhecimento geral - não me aconteceu nada. Em contrapartida, lesionei-me no dia dois que também foi o dia em que fiquei sem smartphone, duas coisas nas quais nem pensei. Passei do ritmo naturalmente rápido para um coxear lento e doloroso, passei de ter os bookings na mão para escrever num guardanapo até onde tinha de chegar. Acordava sem a certeza que chegaria à etapa seguinte por isso aceitei e abracei a forma como o Caminho quis que fosse percorrido e isso trouxe-me uma tranquilidade enorme. Chegar a Santiago teve um impacto grande em mim e naquele momento acreditei que podia conquistar o Mundo!

Decidiste seguir arquitetura porque…

Era uma área que juntava a criatividade e a razão em proporções que me agradava. Honestamente, na altura pouco sabia sobre a realidade de exercer arquitetura e tem sido um caminho verdadeiramente desafiante.

Muito cedo na prática percebi que é no residencial onde me sinto mais confortável e foi nesse contexto que dirigi a minha experiência. Ter a oportunidade de ver um par de riscos transformado em algo palpável como uma parede é muito apelativo. Poder decidir o porquê daquela parede existir naquele sítio, com que dimensão e materialidade é para mim o contar de uma história e essa parede representa uma frase. Ela tem um contexto, um objetivo e dá seguimento a outros elementos.

O mesmo raciocínio é aplicado num projeto de decoração, onde cada elemento serve um propósito. Aliada à funcionalidade posso atribuir várias formas e texturas às partes que compõem o todo.

Projetar as casas das pessoas continua a ser a grande motivação que me levou a fazer este curso.

De que forma é que a criação da T2 transformou a tua vida?

A T2 foi sem dúvida uma charneira.

O desafio foi lançado por uma amiga em 2012 e ambas procurávamos estar mais alinhadas com a maneira como gostávamos de ser tratadas enquanto clientes e com uma abordagem mais personalizada do princípio ao fim do projeto.

Tínhamos experiência de alguns ateliers mas nenhuma fazia a gestão dos mesmos. Criar a T2 obrigou-nos a ser empreendedoras numa altura onde o movimento do empreendedorismo não era tão visível e sem os recursos de apoio que hoje encontramos.

A minha vida transformou-se a partir do momento em que deixei de representar ateliers e criei a minha representação. E essa é uma transformação contínua.

O que é que o teu trabalho acrescenta à vida dos teus clientes?

Todas as pessoas vivem os espaços de modo diferente e cabe-nos a nós traduzir em soluções exequíveis o que os nossos clientes querem sentir no espaço, como o querem viver, com quem e em que altura do dia.

Adicionamos valor às propostas pela experiência que já adquirimos aliada aos recursos humanos e materiais que dispomos e sempre com a abordagem mais personalizada possível, tornando-a também menos intimidante.

O nosso objetivo é sempre atingir espaços o mais cómodos, organizados e harmoniosos possível.

Um conselho para quem quer iniciar um projeto.

A minha recomendação a freelancers (que é o modelo que conheço melhor) é delegar o que for financeiramente viável.

Iniciar um projeto requer muita energia e para manter o foco naquilo que realmente ninguém pode fazer por nós, é uma mais valia libertar a mente das tarefas que nos consomem mais tempo, que gostamos menos de fazer ou nas quais nos sentimos menos confortáveis de executar.

Quando existe indisponibilidade financeira de subcontratar, pesquisar recursos disponíveis online e modelos existentes, falar com a rede de contactos a fim de minimizar o investimento de tempo em áreas que são necessárias, mas consomem muitas horas a quem não domina conteúdos.

Qual é a tua principal fonte de inspiração?

Tudo aquilo que estiver ao meu alcance de usar como conhecimento.

Um local novo onde posso admirar o trabalho de um colega arquiteto. Uma exposição que me dê uma nova perspetiva sobre um tema. Um debate de ideias que me proporcione formas alternativas de encarar um assunto. Conhecer alguém e ter contacto com uma realidade diferente da minha. Uma sessão de meditação. Uma intenção de um cliente. Acho que se estiver recetiva, a inspiração pode fluir de muitas fontes.

Como descreves a experiência Share inspiration @ the Table?

Um evento onde tive oportunidade de conhecer um conjunto de pessoas muito distintas entre si, mas com o mesmo sentido de partilha - de conhecimento, de experiência e até de dores de crescimento.

Mais do que o reconhecimento da experiência do outro como sendo semelhante à nossa, senti que é uma comunidade empática e generosa.



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