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ANA GARCIA

Se pudesses escolher uma frase, um texto, uma música ou um poema para te definir qual seria?

É uma pergunta difícil porque já muitos autores escreveram sobre mim (é verdade, não é pretensão!), mas gosto particularmente deste poema de Osvaldo Montenegro (e da sua parte final):

Que a força do medo que tenho

não me impeça de ver o que anseio

que a morte de tudo em que acredito

não me tape os ouvidos e a boca

pois metade de mim é o que eu grito

a outra metade é silêncio

Que a música que ouço ao longe

seja linda ainda que tristeza

que a mulher que amo seja pra sempre amada

mesmo que distante

pois metade de mim é partida

a outra metade é saudade.

Quer as palavras que falo

não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor

apenas respeitadas como a única coisa

que resta a um homem inundado de sentimentos

pois metade de mim é o que ouço

a outra metade é o que calo

Que a minha vontade de ir embora

se transforme na calma e paz que mereço

que a tensão que me corrói por dentro

seja um dia recompensada

porque metade de mim é o que penso

a outra metade um vulcão

Que o medo da solidão se afaste

e o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável

que o espelho reflita meu rosto num doce sorriso

que me lembro ter dado na infância

pois metade de mim é a lembrança do que fui

a outra metade não sei

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria

pra me fazer aquietar o espírito

e que o seu silêncio me fale cada vez mais

pois metade de mim é abrigo

a outra metade é cansaço

Que a arte me aponte uma resposta

mesmo que ela mesma não saiba

e que ninguém a tente complicar

pois é preciso simplicidade pra fazê-la florescer

pois metade de mim é platéia

a outra metade é canção.

Que a minha loucura seja perdoada

pois metade de mim é amor

e a outra metade também.


Qual foi o maior desafio que viveste até hoje?

Profissionalmente foi ter ido viver para Angola. Pessoalmente foi ter acompanhado a minha mãe durante um severo cancro no início de 2000 e, no ano passado, o meu pai que esteve entre a vida e a morte, o que me obrigou a mudar-me de cidade e deixar tudo em standby.


E qual foi o momento mais feliz?

Acordar todos os dias é sempre um momento feliz, mas recordo com muita intensidade a oferta do meu primeiro “bebé careca” pelo meu avô a seguir a uma cirurgia que fiz em miúda.


Decidiste criar a Ohmm porque…

Porque adoro receber e cuidar e queria criar o meu próprio negócio. Já me tinha despedido várias vezes e acabei sempre por aceitar novos empregos, até que decidi construir o meu.


De que forma é que a criação desta marca transformou a tua vida?

De todas as formas e feitios, como se diz pelas ruas.

Transformou primeiro no sentido em que foi a primeira marca que se converteu num projeto inteiramente meu. Já tinha criado outras marcas que eram e continuam sempre a ser um bocadinho minhas, mas não se converteram num negócio próprio. Foram criadas para outros, para outras empresas.

Com a sua implementação, quebrei o estilo de vida que tinha. Deixei de ter de cumprir os horários e as métricas das empresas para onde trabalhei. Desenhei todos os processos exatamente como me parece que devem ser realizados. Criei novas rotinas. Mergulhei muito em mim. Aprendi (e aprendo todos os dias) muito sobre mim. Apurei a minha sensibilidade de observar e analisar. Concretizei a importância de ter um propósito. Ganhei consciência.

Dei vida a algo que criei.

A experiência de receber pessoas de todo o mundo é altamente enriquecedora. A importância de o fazer com um sorriso associando uma marca (coisa aparentemente intangível), é assistir a um imenso e positivo impacto na vida de quem chega e por contaminação, na minha!

O processo de criação da Ohmm pressupôs sempre a presença da expressão gráfica na vida da marca. Isso tem sido conseguido em co-criação com os hóspedes, quando defini que lhes iríamos pedir um testemunho gráfico sobre a estadia. Entregamos um caderno e canetas coloridas e em nome da marca, lançamos o desafio. A aprendizagem aqui é esta: O desenho nasce connosco e é para a maioria uma forma de expressão cheia de vida e significado que pode reforçar a memória de uma experiência, através de um testemunho único, pessoal, genuíno. E se for a marca a pedir essa tarefa, tudo parece acontecer com uma enorme fluidez e naturalidade.

Acredito, portanto, que o desenho é uma poderosa ferramenta de expressão intrínseca em cada um de nós. E esta poderosa ferramenta impulsionou-me também a mim a voltar a desenhar, com a leveza e naturalidade da infância. Livre de julgamentos.

Ter uma marca não é viver só dentro dela, mas passa muito por viver para ela. Isto transformou a minha vida no sentido em que procuro atividades e formações que a possam alimentar.

Estas viagens paralelas são também transformadoras. Foi com elas que desbloqueei este dom reprimido, nomeadamente no Brands Lab Program, contigo Carla Costa, e com a Maki Areias e na formação de Storyteling com a Mónica Menezes.

Acredito que a vida da Ohmm vai continuar a transformar a minha e vice-versa. Isso por si só é uma enorme e infinita transformação.


Entretanto, criaste mais duas marcas The Suite e Atelier da Graça. O que é estes três projetos acrescentam à vida dos seus clientes?

Com a Ohmm somos os parceiros perfeitos para investidores ou particulares que procurem gestão personalizada das suas casas pois acrescentamos valor e profissionalismo ao negócio de Alojamento Local.

Com a TheSuite, sendo uma loja online com produtos e serviços para alojamentos de excelência, quer particulares, quer empresários ligados ao Alojamento Local, ou visitantes e amantes de lisboa, têm acesso a artigos genuínos e serviços de apoio às estadias.

O Atelier da Graça materializa num espaço físico tudo que a TheSuite disponibiliza online, acrescentando o lounge onde podem descansar antes do voo, deixar a bagagem enquanto o alojamento não está pronto ou aceder à internet para imprimir cartões de embarque ou trabalhar.

O bairro da Graça, ganhou um vizinho que o veio enriquecer com serviços de apoio à população, (como o acesso a Multibanco – ainda em negociação - e a possibilidade de entrega de encomendas quando não estejam em casa, para além do acolhimento dos viajantes que circulam por vezes “perdidos” no bairro. Quer ser também um ponto de informação sobre o Alojamento Local que ainda é intrigante para alguns moradores.


Um conselho para quem quer iniciar um projeto.

Mais do que um conselho, um desafio: condensar num post it o que vai ser esse projeto antes de qualquer outro passo.


Qual é a tua principal fonte de inspiração?

Arte, música, o mar e a minha mãe.


Como descreves a experiência Share Inspiration @ the Table?

É um momento intenso de partilha de experiências que nos devolve energia, reforça que não estamos sós, inspira e incita a seguir em frente com uma luz nova.




Partilhar é o sal da vida. Ah, e desenhar também!



Ohmm


TheSuite


Atelier da Graça




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